quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Viva!!!!!

Ah o verão... Dizem que é a estação da perdição!!!!


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aviso da Lua que menstrua


Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com essa gente que menstrua...
imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia
barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita...
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na “vera”
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos...
às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a “cidade secreta”
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não despreze a meditação doméstica.
É da poeira do contidiano
que a mulher extrai filosofia
cozinhando, costurando
e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o próprio mundo!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Saudades


Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector







quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Bordado


O Professor Damásio de Jesus é um dos maiores tratadistas do Direito Penal Brasileiro, com incontáveis publicações na área Processual. Em novembro/2002 ele escreveu isso:

-Quando eu era pequeno, minha mãe costurava muito. Eu me sentava no chão, brincando perto ela, e sempre lhe perguntava o que estava fazendo.
Respondia que estava bordando.
Todo dia eram a mesma pergunta e a mesma resposta. Observava seu trabalho
de uma posição abaixo de onde ela se encontrava sentada e repetia:
- “Mãe, o que a senhora está fazendo?” Dizia-lhe que, de onde eu olhava, o
que ela fazia me parecia muito estranho e confuso. Era um amontoado de
nós, e fios de cores diferentes, compridos, curtos,
uns grossos e outros finos.
Eu não entendia nada. Ela sorria, olhava para baixo
e gentilmente me explicava:
- “Filho, saia um pouco para brincar e quando terminar meu trabalho eu
chamo você e o coloco sentado em meu colo. Deixarei que veja o trabalho da
minha posição". Mas eu continuava a me perguntar lá de baixo:
- “Por que ela usava alguns fios de cores escuras e outros claros?
Por que me pareciam tão desordenados e embaraçados?
Por que estavam cheios de pontas e nós?
Por que não tinham ainda uma forma definida?
Por que demorava tanto para fazer aquilo?” ·
-Um dia, quando eu estava brincando no quintal, ela me chamou:
- “Filho, venha aqui e sente em meu colo". Eu sentei no colo dela e me surpreendi ao ver o bordado. Não podia crer! Lá de baixo parecia tão confuso! E de cima vi uma paisagem maravilhosa! Então minha mãe me disse:
-"Filho, de baixo, parecia confuso e desordenado porque você não via que
na parte de cima havia um belo desenho. Mas, agora, olhando o bordado da
minha posição, você sabe o que eu estava fazendo".
-Muitas vezes, ao longo dos anos, tenho olhado para o céu e dito:
-"Pai, o que estás fazendo"? Ele parece responder:
-"Estou bordando a sua vida, filho". E eu continuo perguntando:
-"Mas está tudo tão confuso... Pai, tudo em desordem. Há muitos nós,
fatos ruins que não terminam e coisas boas que passam rápido.
Os fios são tão escuros.
-Por que não são mais brilhantes"?
-O Pai parece me dizer:
-"Meu filho, ocupe-se com seu trabalho, descontraia-se, confie em Mim...
e Eu farei o meu trabalho. Um dia, colocarei você em meu colo e então vai
ver o plano da sua vida da minha posição".
-Muitas vezes não entendemos o que está acontecendo em nossas vidas, as coisas são confusas, não se encaixam e parece que nada dá certo. É que estamos vendo o avesso da vida! Do outro lado, Deus está bordando...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Viva o rei do Baião


‎''Bem que esta noite eu vi gente chegando
Eu vi sapo saltitando
E ao longe ouvi o ronco alegre do trovão
Alguma coisa forte pra valer
Estava para acontecer na região
Quando o galo cantou
Que o dia raiou eu imaginei
É que hoje é treze de dezembro e a treze de dezembro
Nasceu nosso rei
O nosso rei do baião
A maior voz do sertão
Filho do sonho de D. Sebastião
Como fruto do matrimônio
Do cometa Januário
Com a estrela Santana
Ao nascer da era do Aquário
No cenário rico das terras de Exu
O mensageiro nu dos orixás
É desse treze de dezembro
Que eu me lembrarei e sei que não me esquecerei jamais.''