quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Viva!!!!!

Ah o verão... Dizem que é a estação da perdição!!!!


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aviso da Lua que menstrua


Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com essa gente que menstrua...
imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia
barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita...
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na “vera”
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos...
às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a “cidade secreta”
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não despreze a meditação doméstica.
É da poeira do contidiano
que a mulher extrai filosofia
cozinhando, costurando
e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o próprio mundo!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Saudades


Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector







quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Bordado


O Professor Damásio de Jesus é um dos maiores tratadistas do Direito Penal Brasileiro, com incontáveis publicações na área Processual. Em novembro/2002 ele escreveu isso:

-Quando eu era pequeno, minha mãe costurava muito. Eu me sentava no chão, brincando perto ela, e sempre lhe perguntava o que estava fazendo.
Respondia que estava bordando.
Todo dia eram a mesma pergunta e a mesma resposta. Observava seu trabalho
de uma posição abaixo de onde ela se encontrava sentada e repetia:
- “Mãe, o que a senhora está fazendo?” Dizia-lhe que, de onde eu olhava, o
que ela fazia me parecia muito estranho e confuso. Era um amontoado de
nós, e fios de cores diferentes, compridos, curtos,
uns grossos e outros finos.
Eu não entendia nada. Ela sorria, olhava para baixo
e gentilmente me explicava:
- “Filho, saia um pouco para brincar e quando terminar meu trabalho eu
chamo você e o coloco sentado em meu colo. Deixarei que veja o trabalho da
minha posição". Mas eu continuava a me perguntar lá de baixo:
- “Por que ela usava alguns fios de cores escuras e outros claros?
Por que me pareciam tão desordenados e embaraçados?
Por que estavam cheios de pontas e nós?
Por que não tinham ainda uma forma definida?
Por que demorava tanto para fazer aquilo?” ·
-Um dia, quando eu estava brincando no quintal, ela me chamou:
- “Filho, venha aqui e sente em meu colo". Eu sentei no colo dela e me surpreendi ao ver o bordado. Não podia crer! Lá de baixo parecia tão confuso! E de cima vi uma paisagem maravilhosa! Então minha mãe me disse:
-"Filho, de baixo, parecia confuso e desordenado porque você não via que
na parte de cima havia um belo desenho. Mas, agora, olhando o bordado da
minha posição, você sabe o que eu estava fazendo".
-Muitas vezes, ao longo dos anos, tenho olhado para o céu e dito:
-"Pai, o que estás fazendo"? Ele parece responder:
-"Estou bordando a sua vida, filho". E eu continuo perguntando:
-"Mas está tudo tão confuso... Pai, tudo em desordem. Há muitos nós,
fatos ruins que não terminam e coisas boas que passam rápido.
Os fios são tão escuros.
-Por que não são mais brilhantes"?
-O Pai parece me dizer:
-"Meu filho, ocupe-se com seu trabalho, descontraia-se, confie em Mim...
e Eu farei o meu trabalho. Um dia, colocarei você em meu colo e então vai
ver o plano da sua vida da minha posição".
-Muitas vezes não entendemos o que está acontecendo em nossas vidas, as coisas são confusas, não se encaixam e parece que nada dá certo. É que estamos vendo o avesso da vida! Do outro lado, Deus está bordando...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Viva o rei do Baião


‎''Bem que esta noite eu vi gente chegando
Eu vi sapo saltitando
E ao longe ouvi o ronco alegre do trovão
Alguma coisa forte pra valer
Estava para acontecer na região
Quando o galo cantou
Que o dia raiou eu imaginei
É que hoje é treze de dezembro e a treze de dezembro
Nasceu nosso rei
O nosso rei do baião
A maior voz do sertão
Filho do sonho de D. Sebastião
Como fruto do matrimônio
Do cometa Januário
Com a estrela Santana
Ao nascer da era do Aquário
No cenário rico das terras de Exu
O mensageiro nu dos orixás
É desse treze de dezembro
Que eu me lembrarei e sei que não me esquecerei jamais.''

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Citações



Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira.

(Cecília Meireles)



A gente tem o direito de deixar o barco correr... as coisas se arranjam, não é preciso empurrar com tanta força.

(Clarice Lispector)



Você não consegue fazer uma bondade cedo demais, pois você nunca sabe quando será tarde demais...

(Ralph Waldo Emerson)



Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

(Clarice Lispector)



Acho que a única razão de sermos tão apegados em memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado. 

(Bob Marley)



Experiência é o nome que damos a nossos enganos.

(Oscar Wilde)



Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que não podem ser ajudadas. Tem que acontecer de dentro para fora.

(Rubem Alves)



Vocês riem de mim por eu ser diferente, e eu rio de vocês por serem todos iguais.

(Bob Marley)



A esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero.

(Victor Hugo)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sobre o Amor


Então, Almitra disse:'Fala-nos do amor'
E ele ergueu a fronte e olhou para multidão, e um silêncio caiu sobre todos,
e com uma voz forte, disse:

'Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como
o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim
ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para
vosso crescimento, trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia
vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes e as sacode no
seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
no pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós para que
conheçais os segredos de vossos corações e, com esse
conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.

Todavia, se no vosso temor, procurardes somente a
paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
e abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações, onde rireis, mas
não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as
vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe
senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.

Pois o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga: 'Deus está no
meu coração', mas que diga antes: 'Eu estou no coração de Deus.'
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor
pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio
o vosso curso.
O amor não tem outro desejo senão o de atingir
a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam
estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o
êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o
bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Música




Eu fico impressionada com a forma que a música nos faz viajar no tempo.
E só fechar os olhos e pronto, você se teletrasportar para outra época, cidade, idade e ela vem com outra porção de sentimentos, cheiros, sabores, lembranças... Pode ser de quando se é pequeno e para dormir, nada melhor que aquelas canções de ninar, o instrumental, no meu caso, o bom e velho Pink Floyd, acreditem se quiser, meu pai coloca a gente para dormir escutando Floyd, acho que por isso que eu e meus irmãos somos tão apaixonados por eles. Mas voltando as lembranças gerais, pode ser da rua que brincava até tarde, da escola, do primeiro amor, dos filmes, daquela amiga que nunca mais você encontrará, viagens, da turma da escola, ginásio e da faculdade? Aí sim, eram músicas e músicas....
Realmente a vida da gente tem trilha sonora e como isso é bom... Hoje eu estava sem sono, pra variar e fiquei horas pelo youtube e comecei com um estilo que foi o primeiro que escolhi e de acordo com que a música ia acabando e começa as opções, eu fui mudando de trilha, estilo, língua e pronto, já estava naquele emaranhado de sensações e aquela saudade de... nem eu sei, pois foi tanta mistura, mas uma saudade gostosa...acho que mais do tempo da escola, não sei ao certo. Em algumas, mais um clique e pronto, que tal escutar mais uma vez? E mais uma, mais uma...

A música é uma benção...

E qual a trilha sonora da vida de vocês meus amigos?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A arte de ser Tia...

Como é bom, como é gostoso sentar e escutar o que eles tem para contar, tomar banho de chuva, passear pelas ruas de mãos dadas, ir comer ''besteirinhas'' no final da tarde, assistir filmes, vídeos e dançar até cansar e como no cansamos rápido. Ter a liberdade de fazer somente o que é gotoso, brincar, fazer arte, ser companheira e deixar para os pais a parte mais difícil. rs

Eles tem o dom de movimentar nossas vidas, em qualquer idade que tenham, um sorriso meigo, uma palavra errada, um abraço apertado e assim vamos educando e sendo educados, agachando sempre para falar com os pequeninos e um dia nos espantando por perceber que já falam quase na mesma altura.

Ter momentos de longas ausencias e assim mesmo, uma presença constante em nossas vidas…

A nobre arte de ser tia é amar uma pessoinha que não é sua, mas a quem você pertence, acompanhar a vida de quem vive outras histórias e que faz parte da sua 100%.
E tem ainda os sobrinhos que podem ser os primos de nossos filhos, os filhos dos primos, os nossos afilhados, os afilhados dos irmãos, os filhos dos amigos e todos que alegremente nos chamam de tia. E a festa e bagunça está formada. Sobrinhos são como filhos, com algumas diferenças, nosso amor por eles é imenso, torcemos para que não sofram e não façam sofrer, seus erros sejam apenas os necessários para o crescimento e sua luz brilhe e ilumine esse universo lindo que nos escolheu para sermos humanos.

Por essas e outras que eu amo, amo incondicionalmente os meus pequenos, Lalá, Malu e Pepeu e agora o mais novo integrante da Grande Família, Luca que descobrimos hoje o sexo e sei que virá com muita saúde! Amo!

Under The Waves


Under the waves, deep in the drift
I can feel the salt upon my skin.
Under the waves, falling away
I no longer see the rings of rain.

I want to feel it, if just to know it's true
Look me over- it's just a surface wound.
Don't pay to fight it; can't change the color blue.
All I wanted was to impress you.

Under the waves, caught in a dream
Lover, can you hear me breathing?
Under the waves, now that I'm giving up
I can let the current carry me.

I want to feel it, if just to know it's true
Look me over- it's just a surface wound.
Don't pay to fight it; can't change the color blue.
All I wanted was to impress you.

And if I catch myself crying
For things I cannot control
I'll head on back to the wall
Where tears are invisible.

Under the waves, I know who I am
I don't need to spin the story. 
Under the waves, down in the deep
I no longer see the rings of rain


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Om

OM NAMO BHAGAVATE VASUDEVAYA 






É um dos mantras de evocação de Krishna. 
OM é a vibração interdimensional que interpenetra a tudo e a todos.
NAMO: Saudação ou reverência ao poder divino.
BHAGAVATE: Respeito ao Senhor.
VASUDEVAYA: Vasudeva é o nome da família carnal que criou Krishna. O Ya acrescentado no final significa a característica ativa (masculina) do mantra. Quando alguém faz esse mantra completo, evoca Krishna como homem que também viveu aqui na Terra e sabe das dificuldades enfrentadas por todos.



Passado, presente.... e futuro também? Hoje acordei sem entender nada, que confusão dentro de mim...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Extremos da Paixão


Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo...



Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.

Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-v… Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.


No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira:compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano,e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó.O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya,ilusão,passatempo.E exigimos o terno do perecível, loucos.


Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.

Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Romaria




É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a só
Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos
Perderam-se na vida
À custa de aventuras
Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte
Eu não sei, nunca vi
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida 
Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Prá pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar
Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida...

Saudades de casa, saudade da Romaria de Nossa Senhora da Soledade... Olhai e vigiai por mim e por aqueles que precisam de suas bençãos... 

sábado, 10 de setembro de 2011

Te Mereço...



Um carinho envolve o meu coração
Sinto que é você, falando pra mim
Sussurrando
Quente entre os dentes, letras tão gentis
Até vou acordar, pra não esquecer
Palavras
Que eu sei de cor por ter você
Por querer e merecer
Enquanto o sono é pouco e o sonho é bom
Eu entendo essa canção
Olho semi aberto escuto da janela
A cidade acordar mas dentro do quarto
Escuto
Você que como um anjo ensina ao respirar
Desse jeito mansinho e halito doce
Entregue
A amar e ao me abraçar
Me apaixono ainda mais
Mas se não me levantar e escrever
De manhã não vou lembrar
E a amar e ao me abraçar
Me apaixono ainda mais
Mas se não me levantar e escrever
De manhã não vou lembrar, eu sei
Ser acordada às 4h da manhã para escutar ''Palavras que eu sei de cor'' foi perfeito! 
De fato você tem me ganhado nos detalhes e nem percebe isso... Como é bom escutar a sua voz, sentir seus carinhos e saber que tenho uma pessoa tão especial na minha vida. 
O post de hoje é totalmente dedicado a quem me faz suspirar em noites quentes como a de hoje. Quem tira o meu sono e eu nem me importo com isso, quem me faz ter ideias e vontades que são incontroláveis...


Boa noitinha minha gente, ops, boa madrugadinha! :)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Arroz De Palma

"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. "


Para voltar com força total a minha vida real-virtual, quero indicar um dos livros mais lindos que li nos últimos tempos, O Arroz de Palma do autor: Francisco Azevedo. E para todos vocês ficarem no gostinho, vou deixar um pedaço do que é o livro.


Eu aqui na fazenda. Eu aqui na cozinha, quatro e pouco da manhã. Isabel ainda dorme, o sol ainda demora. Eu aqui, um velho de 88 anos. Para os mais novos, o avô é eterno, o que não teve começo nem terá fim, o que já veio ao mundo com esta cara enrugada. Eu aqui, de avental branco, picando o tempero verde. Preparo o almoço de família. Terei forças? 88: dois infinitos verticais. É boa idade, será uma bela festa, Tenho prática. Tia Palma me ensinou a cozinhar. eu era jovem. Por onde andará Tia Palma? Às vezes, fica tempo sem aparecer. Às vezes, vejo-a perambulando pela casa com mamãe e papai e nem preciso dos óculos. Chegam com diferentes idades, alegres ou preocupados, falantes ou silenciosos. Depende do dia, da hora em que os vejo. Imaginação? Senilidade? Perco noção. Perco? Me pego conversando com esse menino que era eu. Ou escrevendo alto comigo mesmo. Falo com meus queridos já distantes no tempo e no espaço. Às vezes, sinto medo, assobio no escuro. De repente, luz. Cinema! Me projeto histórias. Revejo meus irmãos na infância, nítidos, pulando uns nos outros, correndo e voltando para embolar feito cachorro novo. Revejo aquela minha Isabel apaixonada. Revejo meus filhos quando ainda estavam perto e eram meus. Lembranças vivas em todos os sentidos: paladar, olfato, audição, visão e tato. Sigo em frente. Para o hoje - que eu amo! - e depois para onde o nariz aponta e a vista alcança e para mais além, aonde só a esperança vai. Sou passado, presente, futuro - três pessoas distintas reunidas numa só, mistério da terreníssima trindade. Confio em você, que agora me faz companhia e me lê os pensamentos.
Velho sente saudade de mãe e de pai. Tudo faz tanto tempo! Velho quer colo, quer colher na boca vindo de longe com motor de aviãozinho, quer - banho tomado - que lhe ponham na cama, lhe aconcheguem com lençol limpo e travesseiro macio. Uma história conhecida, uma cantiga de ninar, um beijo de boa-noite. a porta do quarto um pouquinho aberta, com a luz do corredor acesa - o ponto de referência é sempre bom. Velho sente falta de instância superior. Quem o julgará com isenção e sabedoria? Quem, melhor que ele, saberá, imparcial, examinar o mérito da questão? Velho é criança de fôlego diferente. Já não lhe interessam as correrias nos jardins, o sobe e desce das gangorras, o vaivém dos balanços. É tudo muito pouco. O que ele quer agora é desembestar no céu, soltar os bichos que colecionou a vida inteira. Os bichos todos - domésticos, selvagens, úteis e nocivos. Os pesados répteis que ainda guarda no coração e as borboletas, peixes e passarinhos, tudo solto lá em cima! Tia palma dizia que velho na horinha da morte conhece o máximo e o mínimo de si mesmo. É ao mesmo tempo elefante e louva-deus. É sequóia e flor-do-campo, oceano e poça de chuva, cordilheira e grão de sal. Ela garantia que a gente sabe direitinho quando acontece a transformação. A alma começa a emitir todos os sons da natureza: ventos, águas, passos de gente no cascalho, fogo que arde, madeira que estala, respirações variadas e, de repente, um bater rápido de asas. Aí entra o coral - as vozes dos animais. A alma do velho rosna, ameaçadora - segundo movimento do concerto. A alma urra, uiva, grita, relincha e muge. Depois zumbe, trina e gorjeia. A alma se liberta rumo ao infinito e, aí sim - soprano, tenor, contralto e baixo - canta a mais bela ária da mais bela ópera! Eu, criança, piamente acreditava. Depois, homem feito, achava graça. Faz algum tempo voltei a acreditar.
É na cozinha que eu desembesto e solto os bichos. É na cozinha que eu viajo sem passaporte, sem bilhete, sem revista em aeroportos. As autoridades querem minhas digitais? Elas estão na massa do pão. Querem minha foto? Tenho várias, de frente e de lado com meus pais e irmãos e com os que vieram depois. Retratos falados - em voz alta, a família toda ao mesmo tempo. Destrambelhada família. Sagrada família...
Preciso me concentrar. É essencial. Por quê? Ora, que pergunta! Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema - principalmente no Natal e no Ano-Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Ás vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida - azeitona verde no palito - sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano - quem diria? - solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este, o mais gordo e generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero ou do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e a cebola. Não se envergonhe se chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, essas especiarias - que quase sempre vêm da áfrica e do oriente e nos parecem estranhas ao paladar - tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa. Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe "Família à Oswaldo Aranha", "Família à Rossini", "Família à Belle Meunière" ou "Família ao Molho Pardo" - em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é "À Moda da Casa". E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras, apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada - seriam assim um tipo de "Família Diet", que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Há famílias, por exemplo, que levam muito tempo para serem preparadas. Fica aquela receita cheia de recomendações de se fazer assim ou assado - uma chatice! Outras, ao contrário, se fazem de repente, de uma hora para outra, por atração física incontrolável - quase sempre de noite. Você acorda de manhã, feliz da vida, e quando vai ver já está com a família feita. por isso é bom saber a hora certa de abaixar o fogo. Já vi famílias inteiras abortadas por causa de fogo alto.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia-a-dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente, na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.